quinta-feira, 10 de maio de 2012

Para os pais: Educar em amizade


"O ideal dos pais concretiza-se, sobretudo, em conseguir ser amigos dos filhos", dizia S. Josemaria. Só assim se cria a confiança que torna possível a sua educação.

Simultaneamente, não se pode esquecer que, especialmente nas primeiras fases do crescimento, a educação tem uma importante carga afetiva. A vontade e a inteligência não se desenvolvem à margem dos sentimentos e das emoções. Mais, o equilíbrio afetivo é requisito necessário para que a inteligência e a vontade se desenvolvam; se não, é fácil que se produzam alterações na dinâmica da aprendizagem e talvez, mais adiante, desequilíbrios na personalidade.
Mas, como conseguir essa ordem e medida nos afetos da criança e depois nos do adolescente e do jovem? Talvez nos encontremos diante de uma das perguntas mais árduas para a tarefa pedagógica, entre outras razões porque se trata de um assunto prático que incumbe a cada família. De qualquer forma, pode-se avançar uma primeira resposta: é vital gerar confiança. 
Pais: não vos excedais ao repreender os vossos filhos, não suceda que se tornem pusilânimes[1], recomenda o Apóstolo. Quer dizer, os nossos filhos tornar-se-iam tímidos, sem audácia, com medo de assumir responsabilidades. Pussillus animus: um espírito pequeno, mesquinho.
Gerar confiança tem que ver com a amizade, que é o ambiente que proporciona que surja uma ação verdadeiramente educativa: os pais devem procurar fazer-se amigos dos filhos. Assim o aconselhava S. Josemaria reiteradamente: A imposição autoritária e violenta não é caminho acertado para a educação. O ideal para os pais é chegarem a ser amigos dos filhos; amigos a quem se confiam as inquietações, a quem se consulta sobre os problemas, de quem se espera uma ajuda eficaz e amável [2].
À primeira vista não é fácil entender o que pode significar “fazer-se amigo dos filhos”. A amizade supõe-se entre pares, entre iguais, e essa igualdade contrasta com a assimetria natural da relação paterno-filial.
É sempre muito mais o que os filhos recebem dos pais do que o que eventualmente podem chegar a dar-lhes. Nunca será possível saldar a dívida que têm para com eles. Os pais não costumam pensar que se sacrificam pelos filhos quando de fato o fazem; não veem como privação o que para os seus filhos é oferta. Reparam pouco nas suas próprias necessidades ou, melhor, convertem em próprias as necessidades dos filhos. Chegariam a dar a vida por eles e, de fato, habitualmente a estão dando sem que disso se apercebam. É muito difícil encontrar uma gratuidade maior entre pessoas.
No entanto, é também verdade que os pais se enriquecem com os filhos; a paternidade é sempre uma experiência inovadora, como o é a própria pessoa. Os pais recebem algo muito importante dos filhos: em primeiro lugar, carinho, algo que nenhuma outra pessoa lhes poderá dar por eles, pois cada pessoa é única; e, além disso, a oportunidade de sair de si próprios, de se “despojar” na entrega ao outro – o marido à mulher, a mulher ao marido, e ambos aos filhos – e assim crescer como pessoas. 
A pessoa só pode encontrar a sua plenitude no amor. Como ensina o Concílio Vaticano II, «o homem, única criatura terrena a quem Deus amou por si mesmo, não pode encontrar a sua própria plenitude se não for na entrega sincera de si mesmo aos outros»[3]. Dar e receber amor é a única coisa que consegue encher a vida humana de conteúdo e “peso”: «amor meus, pondus meum», diz Santo Agostinho [4]. Mas o amor é mais vivo em quem é capaz de sofrer pela pessoa que ama, do que quem só é capaz de se passar bons momentos com ela.
O amor implica sempre sacrifício e é lógico que gerar essa atmosfera de confiança e amizade com os filhos também o requeira. O ambiente de uma família não é algo que já nasce feito, deve ser construído. Isto não implica que se trate de um projeto difícil, ou que requeira uma especial preparação: supõe estar atento aos pequenos detalhes, saber manifestar em ações o amor que se leva dentro.
O ambiente familiar relaciona-se em primeiro lugar com o carinho que os esposos têm e demonstram; poderia dizer-se que o carinho que os filhos recebem é a super-abundância do que os pais se demonstram mutuamente. As crianças vivem desse ambiente, ainda que talvez o captem sem estar conscientes da sua existência.
Logicamente, essa harmonia torna-se ainda mais importante quando se trata de ações que afetam diretamente os filhos. No campo da educação, é fundamental que os pais caminhem em uníssono; por exemplo, uma medida tomada por uma deles, deve ser secundada pelo outro; se a contraria, educa-se mal.
Os pais devem educar-se também entre si e educar-se para educar. Um pai e uma mãe mal-educados dificilmente serão bons educadores. Devem crescer cuidando do seu vínculo matrimonial, melhorando as suas virtudes. Procurando juntos reforços positivos para os filhos.

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