sexta-feira, 29 de junho de 2012

Pai Nosso, que estais no Céu


Com o Pai Nosso, Jesus Cristo nos ensina a dirigir-nos a Deus como Pai. É a oração filial por excelência.

          Com o Pai Nosso, Jesus Cristo ensina-nos a dirigir-nos a Deus como Pai: «Orar ao Pai é entrar em seu mistério, tal como Ele é, e tal como o Filho no-lo revelou: “A expressão Deus Pai nunca fora revelada  a ninguém. Quando o próprio Moisés perguntou a Deus quem Ele era, ouviu outro nome. A nós este nome foi revelado no Filho, pois este nome novo implica o nome novo do Pai” (Tertuliano, De oratione, 3)» (Catecismo, 2779). 
           Ao ensinar o Pai Nosso, Jesus descobre também a seus discípulos que eles foram feito partícipes de sua condição de Filho: «Mediante a Revelação desta oração, os discípulos descobrem uma especial participação deles na filiação divina, da qual São João dirá no Prólogo de seu Evangelho: “A quantos acolheram-no (isto é, a quantos acolheram ao Verbo feito carne), Jesus deu o poder de chegar a ser filhos de Deus” (Jo 1, 12). Por isso, com razão rezam segundo seu ensino: Pai Nosso»[1]. 
           Jesus Cristo sempre distingue entre « meu Pai » e « vosso Pai » (cfr. Jo 20, 17). De fato, quando Ele reza nunca diz Pai nosso». Isto mostra que sua relação com Deus é totalmente singular: é uma relação sua e de ninguém mais. Com a oração do Pai Nosso, Jesus quer fazer conscientes a seus discípulos de sua condição de filhos de Deus, indicando ao mesmo tempo a diferença que há entre sua filiação natural e nossa filiação divina adotiva, recebida como dom gratuito de Deus. 
           A oração do cristão é a oração de um filho de Deus que se dirige a seu Pai Deus com confiança filial, a qual «se expressa nas liturgias de Oriente e de Ocidente com a bela palavra, tipicamente cristã: “parrhesia”, simplicidade sem rodeios, confiança filial, segurança alegre, audácia humilde, certeza de ser amado (cfr. Ef 3, 12; Hb 3, 6; 4, 16; 10, 19; 1 Jo 2, 28; 3, 21; 5, 14)» (Catecismo, 2778). O vocábulo “parrhesia” indica originalmente o privilégio da liberdade de palavra do cidadão grego nas assembléias populares, e foi adotado pelos Padres da Igreja para expressar o comportamento filial do cristão ante seu Pai Deus.
           Ao chamar a Deus Pai Nosso, reconhecemos que a filiação divina nos une a Cristo, «primogênito entre muitos irmãos» (Rm 8, 29), por meio de uma verdadeira fraternidade sobrenatural. A Igreja é esta nova comunhão de Deus e dos homens (cfr. Catecismo, 2790).
Outra consequência importante do sentido da filiação divina é o abandono filial nas mãos de Deus, que não se deve tanto à luta ascética pessoal —ainda que esta se pressupõe— quanto a um se deixar levar por Deus, e por isso se fala de abandono. Trata-se de um abandono ativo, livre e consciente por parte do filho. Esta atitude tem dado origem a um modo concreto de viver a filiação divina —que não é o único, nem é caminho obrigatório para todos—, chamado «infância espiritual»: consiste em reconhecer-se não só filho, mas filho pequeno, menino muito necessitado de Deus. Assim o expressa São Francisco de Sales: «Se não vos fazeis simples como crianças, não entrareis no reino de meu Pai (Mt 18, 3). Enquanto o menino é pequeninho, conserva-se em grande simplicidade; conhece somente a sua mãe; tem um único amor, sua mãe; uma única aspiração, o regaço de sua mãe; não deseja outra coisa que encostar-se em tão amável descanso. A alma perfeitamente simples somente possui um amor: Deus; e neste único amor, uma única aspiração, repousar no peito do Pai celestial, e aqui estabelecer seu descanso, como filho amoroso, deixando completamente todo cuidado a Ele, não olhando outra coisa senão a permanecer nesta santa confiança»[12]. Por sua vez, São Josemaria também aconselhava percorrer a senda da infância espiritual: «Sendo crianças, não tereis mágoas; as crianças esquecem depressa os desgostos para voltarem aos seus divertimentos habituais. - Por isso, com esse “abandono”, não tereis que vos preocupar, pois descansareis no Pai».[13]

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